Bruno Costa
VÃO LIVRE
Bruno Costa
VÃO LIVRE
Felipe Ferreira é formado em arquitetura e urbanismo, e desde 2020 dedica-se exclusivamente às Artes visuais. Propõe, por meio desta linguagem, uma conexão aos diversos modos das formações culturais de moradias da região de Belém do Pará, onde também reside o artista.
O processo surge nas memórias, na experiência do artista com a arquitetura e, também, das múltiplas possibilidades imagéticas afetivas de um universo particular. Ferreira, em sua pesquisa, relaciona permanências e rupturas da cultura histórica de moradias dessa região. Nas andanças de um passado recente pelo interior do Pará, opera como testemunha dessa passagem do tempo, nas memórias, nos álbuns fotográficos de família, nas observações e registros fotográficos pelas ruas centrais de Belém.
Em planos opacos, as perspectivas se confundem, geométricos transmutam formas e objetos, convidam o espectador a dar sentido à cena. Os objetos delicadamente colocados em recortes, trazem uma narrativa particular conectada à memória simbólica do público. As cenas que compõem as pinturas são construídas a partir das referências fotográficas de época conectada ao olhar atual real/virtual de andarilho observador dessas moradias típicas.
A pesquisa evidencia, também, características que remetem ao tipo de implantação e modificação nas fachadas e nos ambientes internos, ressaltando algumas características projetuais que permitem a compreensão pela linha do tempo da condição sócio econômica local. A produção de Ferreira sugere narrativas que expõem a formação social de um Brasil decolonial, de referências urbanas remanescentes de uma tradição portuguesa, que fazem parte da herança cultural da cidade, mas que, segue para a construção de sua própria estética, se distanciando cada vez mais dos traços coloniais numa arquitetura modificada e marcada pela cultura local.
A ausência da figura humana vislumbra manutenção do imaginário coletivo na possível condição de habitante de narrativa dessa história. Este termo flui através dos recortes das memórias, como num grande arquivo registrando e revendo objetos e formas resgatadas da infância particular ao sujeito que mergulha na obra do artista. A estética se conecta com esses vestígios que permitem fluir a transferência entre
imaginários ”Artista e Espectador".
Nas obras mais recentes, traz aspectos impostos pela lógica de condomínios e suas tendências, como moradias de clausuras: projetos de portões elevados, sistemas de segurança e padronizações. As obras inspiram questionamentos sobre as transformações contemporâneas dessa estética desigual e perversa que acompanha o interesse social da
nova era.
Ciça Tucunduva
Setembro de 2022